RIO DE JANEIRO - Sexta-feira de manhã, quase nublado e ventando bastante. Como não tinha aula... decidi ir surfar. No caminho do meu prédio até a praia olhei para o horizonte em direção ao mar, e reparei que a vista estava diferente. Tudo bem que já não surfava há um mês (ai...) mas isso não anulava minha condição de transeunte ali da área. A conclusão na hora foi de que, com certeza, havia árvores a menos na orla.
Chegando no calçadão, me deparei com a “carequice” que estava a restinga na frente dos dois quiosques da área (restinga é o nome da vegetação litorânea típica da Mata Atlântica, que nasce no inicio da praia). Surpresa, fui logo perguntando ao atendente do quiosque quando e quem tinha feito aquela varredura, a princípio suspeitíssima. “Foi a prefeitura ontem. Se o Levi não tivesse ameaçado botar no jornal tinham tirado tudo”, me respondeu o funcionário. O sangue me subiu a cabeça! (Antes de prosseguir vou explicar melhor o contexto da situação para vocês entenderem a importância – e a gravidade – do que eu estava presenciando):
Moro no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. Na minha opinião, o grande lance do bairro com relação a todo o Rio, é a praia. Por três motivos: Lá o trecho de areia tem um tamanho adequado se comparado a pequena faixa de Ipanema, e principalmente Leblon (ps. As areias desses bairros foram extraídas ilegalmente para compor material de construção, durante o crescimento da cidade, mas isso é uma outra historia); na Barra as ondas são consideravelmente boas para surfar graças ao fundo que essa mata sustenta, mas especialmente, essa vegetação atribui ao lugar um ar maior de preservação.
É como se você fizesse uma “mini-trilha” para chegar a praia. E ainda: lá moram vários bichinhos que formam uma cadeia alimentar desde muito antes do bairro ser habitado...Por outro lado, infelizmente, em Ipanema ou no Leblon os banhistas acabam interagindo com carros e ônibus parados no sinal de trânsito, bem de perto, já que não há essa divisão verde – e viva! - com as calçadas.
Aí... conheci o Levi, o tal cara que parece ter sido a única alma de expediente a questionar a podação de árvores da prefeitura no dia anterior. “Foi uma confusão”, ele disse. Em pouco tempo fiquei sabendo que o argumento da prefeitura – mais especificamente da Fundação Parques e Jardins – era retirar as espécies “invasoras” da área, especialmente as amendoeiras. O motivo real, é que esse tipo de árvore suja mais as calçadas quando os coquinhos caem. E a Comlurb quer ter menos trabalho. Mas, como a turma da podação não é bióloga nem nada, parecia que tinham tirado mais do que o devido.
Fiquei conversando com o Levi, que fez questão de dizer que surfava ali desde criança e não ia deixar desmatarem aquele lugar por nada. “Se eu não tivesse me manifestado, teriam tirado tudo o que está aí. Inclusive a mata nativa”, disse. Parece que ele denunciou o caso para os jornais O Globo, e O Extra. Dei a maior corda para ele e inclusive fiz uma nota “denunciando” o caso para o site* que trabalho. O título foi “Tesoura afiada” mas já está fora de visualização.
Conclusão: Acabei não surfando nesse dia (tudo bem, o mar estava horrível e isso ajudou muito), mas agora curto as restingas como nunca, além de ficar também meio de “patrulha”. Até fiz amizade com o proprietário do quiosque em frente à saída do meu condomínio e ele super adotou a causa depois dessa. “Plantei há vinte anos atrás essas amendoeiras que restaram”, ele disse outro dia. Eu pelo menos não plantei ali nenhuma semente, mas sabendo de alguma espécie compatível, e se em vinte anos o mar não subir até ali (!)...até que seria legal. Mas aí... já é uma outra historia. ;)
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